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História

"A natureza faz parte de nós"

Como a sabedoria indígena Guarani inspira a gestão de uma Reserva da Biosfera da UNESCO na Mata Atlântica (Brasil)

A pouco mais de 20 minutos do centro da metrópole de São Paulo está localizada a comunidade indígena Guarani Tekoa Yvy Porâ, na Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, que abriga o maior trecho contínuo e bem conservado de Mata Atlântica do mundo, um santuário de rica biodiversidade e uma testemunha da harmonia dos seres humanos na natureza. No centro dessa convivência está o povo Guarani, o maior grupo indígena do bioma da Mata Atlântica, que há séculos está entre os mais importantes guardiões dessas terras.



Desde que essa área foi designada como reserva da biosfera em 1991, a UNESCO tem colaborado com os Guarani e com outros Povos Indígenas, ao fornecer uma plataforma relevante para o reconhecimento e o compartilhamento de seus conhecimentos, além de contribuir para a conservação dos ecossistemas da Mata Atlântica.

Menina indígena do Povo Guarani, Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Brasil
Guarani indigenous girl
A monkey in the Amazon forest, Guarani village, Mata Atlântica Biosphere Reserve, Brazil
Mata Atlântica Biosphere Reserve, Brazil
Guarani indigenous boy
Guarani indigenous boy
Mata Atlântica Biosphere Reserve, Brazil
Mata Atlântica Biosphere Reserve, Brazil

Conservar a biodiversidade e respeitar o conhecimento, a cultura e o estilo de vida Guarani

O povo Guarani, profundamente ligado a suas terras ancestrais, enfrenta muitos desafios para protegê-las. Ameaças como extração ilegal de madeira, expropriação e desenvolvimento urbano continuam a interferir em suas terras. A vastidão dessa área, bem como o fato de que a maior parte dela é coberta por uma densa floresta tropical, torna ainda mais difícil o monitoramento dessas ameaças. Ao designar a região da Mata Atlântica como Reserva da Biosfera em 1991, a UNESCO fornece apoio para garantir sua conservação e o uso sustentável de sua biodiversidade, bem como a delimitação das áreas de conservação e a elaboração de planos de desenvolvimento, ampliando assim a importância do conhecimento e do know-how Guarani para enfrentar os desafios e fortalecer suas ações.

Acreditamos que a natureza faz parte de nós. Ela tem espírito, tem conhecimento, tem vida, e devemos respeitá-la. As pessoas protestam nas ruas pelos direitos humanos, mas se esquecem de lutar pelo direito à vida, e esse direito à vida é um direito de todos os seres vivos.

 

Karai Djekupe (Thiago), jovem líder Guarani

Colaboração pela conservação

As terras habitadas e manejadas por Povos Indígenas, como as dos Guaranis, são também áreas de alta biodiversidade. A estreita relação entre as culturas indígenas e a natureza funciona como uma força poderosa na conservação da diversidade biológica.

A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) e o povo Guarani formam uma parceria colaborativa baseada no respeito mútuo e em objetivos compartilhados. A UNESCO, as partes interessadas locais e os Guaranis trabalham juntos em um contexto de aprendizagem mútua para realizar diversas atividades, como projetos de recuperação, iniciativas de turismo sustentável, manutenção de espécies nativas de abelhas e produção de produtos certificados.

Jekupe Jurandir, Guarani community leader, and his daughter. Mata Atlântica Biosphere Reserve, Brazil
Jekupe Jurandir, Guarani community leader, and his daughter. Mata Atlântica Biosphere Reserve, Brazil
Guarani community leader, Mata Atlântica Biosphere Reserve, Brazil
Jekupe Jurandir, Guarani community leader, Mata Atlântica Biosphere Reserve, Brazil

Em nosso território, temos muitos desafios em relação à terra, porque o nosso povo precisa de terra para ter uma cultura forte, para perpetuar a nossa cultura. Fazer parte de uma Reserva da Biosfera da UNESCO nos ajuda a ter o poder para cuidar da Mata Atlântica.

 

Jekupe Jurandir Augusto Martim, líder comunitário Guarani

O apoio da UNESCO e as contribuições dos indígenas

A parceria entre a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) e o povo Guarani mostra que a UNESCO está alinhada com as visões de mundo dos indígenas. Solidariedade, preservação ambiental, organização coletiva, participação de jovens e mulheres, e diálogo entre conhecimento científico e indígena para a conservação biológica são os pontos principais. A Reserva da Biosfera tem seu próprio Conselho Nacional, que inclui representantes dos Povos Indígenas e das comunidades locais, incluindo lideranças dos Guaranis. O Conselho funciona como um órgão essencial de tomada de decisões, que estabelece planos, prioridades e questões políticas relacionadas à Reserva da Biosfera.

O apoio da UNESCO vai além de marcos de ação facilitadores, pois também fornece assistência financeira e técnica às iniciativas, como o projeto de Restauração Cidadã da Reserva da Biosfera. Ao valorizar as economias, o conhecimento, as habilidades e o artesanato indígenas, a UNESCO e a RBMA colaboram para que as iniciativas e lutas do povo Guarani possam prosperar cada vez mais.

Olhar para o futuro

Garantir os direitos territoriais, demarcar territórios e apoiar iniciativas políticas que priorizem as comunidades indígenas são passos fundamentais em direção a um futuro sustentável para o povo Guarani e para o ecossistema da Mata Atlântica. A parceria entre as reservas da biosfera e os Povos Indígenas ilustra o poder da cooperação, ao reconhecer as inestimáveis contribuições das comunidades indígenas para viver como a natureza e conciliar a conservação da biodiversidade e seu uso sustentável. Enquanto nos esforçamos para preservar a biodiversidade e promover seu uso sustentável, é fundamental reconhecer e respeitar a sabedoria e a resiliência das culturas indígenas. Juntos, a UNESCO e o povo Guarani traçam um caminho rumo a um futuro no qual a natureza e a cultura prosperam, em um contexto de coexistência harmoniosa.