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BID-UNESCO: as lacunas nos sistemas educacionais serão ampliadas se a educação não for priorizada nos planos de resposta à pandemia

"A região tem necessidade urgente de planejar e definir ações prioritárias para garantir a segurança do funcionamento das escolas e a atenção educacional às populações mais vulneráveis”. Essa é a conclusão do relatório do BID e da UNESCO, intitulado "Reabrir las escuelas en América Latina y el Caribe: Claves, desafíos y dilemas para planificar el retorno seguro a las clases presenciales". O relatório foi lançado pelas duas organizações internacionais no dia 7 de dezembro de 2020 em um evento online. Sua versão em inglês está disponível desde 20 de janeiro.

O documento apresenta uma avaliação desenvolvida por ambas as instituições como uma contribuição para priorizar a educação nos planos nacionais de resposta à emergência sanitária e nas estratégias de recuperação futura. “Os países implementaram vários planos de resposta e recuperação, nos quais a educação deve ser incorporada como um elemento central”, diz o relatório, “não apenas para garantir uma resposta educacional, mas para alcançar uma recuperação equitativa, inclusiva e sustentável”.

O relatório indica que a desigualdade aumenta o desafio de se desenvolver uma estratégia educacional que integre as experiências educacionais de 2020 – e que será difícil a recuperação dos estudantes que não voltaram à escola. Por esse motivo, o documento também pede por uma ação regional que garanta que todas as respostas educacionais tenham como base os princípios fundamentais de inclusão, equidade e não discriminação. Para tanto, o relatório analisa as possibilidades, as restrições e as necessidades que os países latino-americanos e caribenhos enfrentarão no processo de retorno às aulas presenciais, considerando as seguintes dimensões: escolas seguras (infraestrutura escolar, acesso à água e ao saneamento); recursos humanos (diretores e professores); educação remota (acesso às TIC e conectividade); financiamento da educação; além de informação e planejamento.

Em suas conclusões, ambas as organizações destacam que as respostas que os países têm implementado para garantir a continuidade da aprendizagem refletem uma notável capacidade de reagir a um cenário incerto, mas que há decisões difíceis de serem tomadas o mais rápido possível, uma vez que, quanto mais tempo se adiar o retorno às aulas presenciais, maiores serão a exclusão e as desigualdades.

Entre essas decisões, a UNESCO e o BID pedem investimentos para melhorar a situação da infraestrutura escolar, a fim de garantir condições de saneamento básico e higiene. Também preconizam um planejamento cuidadoso da demanda e da oferta de professores para o retorno às aulas, bem como enfatizam a necessidade urgente de se aprimorar as políticas de formação, a disponibilidade, a alocação e as condições de trabalho docente.

No que diz respeito às tecnologias da informação e comunicação (TIC) e à continuidade da aprendizagem durante a pandemia, o relatório destaca as desigualdades entre os estudantes no acesso a opções educacionais em termos de tecnologia durante uma pandemia, bem como o enorme desafio para a continuidade educacional, especialmente nas áreas rurais. Neste período também ficaram claras as disparidades nas habilidades dos professores em TIC, que requerem políticas sustentadas que transcendam a crise atual.

Com relação ao financiamento da educação, o BID e a UNESCO afirmam que a recuperação do setor educacional exigirá recursos adicionais, além de melhorar sua distribuição. As enormes desigualdades destacam a necessidade de incorporar critérios de equidade e a priorização de populações vulneráveis.

Para construir sistemas educacionais mais abrangentes que permitam lidar com crises como esta, também é essencial modernizar a coleta e a análise de informações e tornar esses sistemas mais eficientes. Atualmente, há lacunas marcantes nos dados comparáveis de todos os países, em seus principais indicadores para planejar o retorno às aulas presenciais. Em muitos casos, essas lacunas refletem informações básicas que não estão disponíveis no âmbito nacional.

Sabine Riegle-Aubourg, diretora (a.i.) da Divisão de Educação do BID afirma que este relatório é “um alerta sobre a necessidade urgente de um planejamento cuidadoso das políticas educacionais. Será fundamental a capacidade dos países de definir ações prioritárias para garantir o funcionamento seguro das escolas e priorizar a educação para as populações mais vulneráveis. Para se fazer isso e evitar um desastre geracional, o financiamento da educação deve ser protegido”.

Este diagnóstico relata os desafios enfrentados pelos sistemas educacionais da região, desafios que foram aprofundados pela pandemia da COVID-19. Por essa razão, hoje, mais do que nunca, nós devemos manter nossos compromissos com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e seu Objetivo 4. Investimentos adequados, oportunos e eficientes serão essenciais para reduzir os impactos atuais e futuros da pandemia na educação e para evitar uma catástrofe geracional.

Claudia Uribe, diretora do OREALC/UNESCO Santiago

Mesmo antes da emergência sanitária, os sistemas educacionais já enfrentavam grandes desafios. Em 2018, 10,5 milhões de crianças estavam foram da escola na América Latina e no Caribe: 16% delas estavam fora da educação primária, 22% fora do primeiro nível da educação secundária e 62% sem o segundo nível da educação secundária. Além disso, muitos estudantes da região não conseguem obter as habilidades básicas de aprendizagem, segundo os resultados do PISA (OCDE) e do Terceiro Estudo Regional Comparativo e Explicativo (TERCE), implementado pela UNESCO.

As conclusões

Escolas seguras (infraestrutura escolar, acesso à água e ao saneamento)

A pandemia da COVID-19 expôs deficiências estruturais na infraestrutura escolar.

A maioria das escolas nos países da América Latina e do Caribe não apresentam um tamanho de sala de aula suficiente para permitir a aplicação dos protocolos de distanciamento física para um retorno seguro às aulas presenciais para todos os estudantes. Cerca de 1,3 milhão de estudantes da educação básica não têm acesso à água potável, nem em suas casas nem na escola. É urgente que os países da região invistam na melhoria da infraestrutura escolar, com o objetivo de oferecer saneamento básico e condições de higiene.

Recursos humanos (diretores e professores)

As restrições ao retorno às aulas presenciais para alguns professores, assim como a implementação de modelos híbridos, exigirão a contratação de novos professores. No entanto, mesmo antes da pandemia, muitos países já enfrentavam uma escassez de pessoal capacitado para cobrir as necessidades educacionais da população. A região precisa planejar cuidadosamente a oferta e a demanda de professores para voltar às aulas presenciais; a pandemia trouxe à luz a necessidade urgente de melhorar as políticas de formação, a disponibilidade, a alocação e as condições de trabalho dos professores.

Educação à distância (acesso às TIC e conectividade)

O recurso mais utilizado na região para a educação à distância e híbrida são as plataformas online, empregadas por 85% dos países. No entanto, o acesso à conectividade e aos recursos tecnológicos nos domicílios e nas escolas é deficiente: 46% das crianças entre 5 e 12 anos vivem em domicílios sem conexão à internet. Em termos de escolas, 62% das escolas primárias e 75% das escolas secundárias têm acesso a equipamentos de TIC. Isso representa um enorme desafio para a continuidade da aprendizagem, especialmente nas áreas rurais. A pandemia evidenciou as disparidades nas competências em TIC entre os professores, o que requer políticas de formação sustentadas que vão além da urgência da situação atual.

Financiamento da educação

A recuperação do setor educacional exigirá recursos financeiros adicionais e sua melhor distribuição. As grandes desigualdades destacam a necessidade de se incluir critérios de equidade e priorização da população vulnerável nos planos de retorno às aulas presenciais para estudantes que atualmente estão fora da escola. Nesse sentido, o financiamento da educação, bem como a alocação justa e eficiente de recursos, são fundamentais para responder a esta crise e garantir o direito à educação de qualidade para todos.

Informação e planejamento

Os Ministérios da Educação precisam de robustos sistemas de informação para a gestão da educação (SIGED), os quais permitam o planejamento, o desenvolvimento e a gestão dessas estratégias. Na região da América Latina e Caribe, 42% dos países ainda utilizam formatos físicos (como formulários de papel), total ou parcialmente, para coletar dados. O SIGED da região deve ser fortalecido por meio do uso de tecnologias para coletar e analisar dados de maneira mais efetiva, de modo a permitir que os Ministérios construam um cenário mais abrangente de seus sistemas educacionais, para lidar melhor com crises como a atual.

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